sexta-feira, 27 de maio de 2011

Era uma vez um general, um auditor e um estatístico

Era uma vez um general, um auditor e um estatístico

Há empresas do estado que servem de albergue temporário para auditores, estatísticos e generais cujas funções desempenhadas, não se compreendem.
Era uma vez um general na reserva. Recebia a sua retribuição do estado e era retribuído pelos trabalhos facturados ao estado. Foi, em tempos idos, piloto de aviões. Mas naquele tempo, passou a ser consultor. Vinha com o intuito de reestruturar a empresa, proceder à elaboração dos manuais de procedimentos internos e do novo organigrama. Não trabalhou mais de dois meses. É óbvio que o seu projecto nunca teve qualquer efeito prático. Ficou esquecido numa gaveta qualquer, sem surpresa, pois era esse o destino final previsto. Esta manobra de diversão resumiu-se a um engodo, mal dissimulado. A ideia era ganhar tempo, o tempo mínimo necessário para, sob o pretexto da reestruturação da câmara, encaixar este senhor num cargo com direito a uma retribuição generosa. Todos os dias o general pedia ao presidente, para falar ao presidente, sobre a sua situação. Finalmente o presidente conseguiu encontrar um lugarzinho para o general, no vasto organigrama da câmara.
Era uma vez um auditor. Na câmara foi sempre técnico superior. Passou pelas participações municipais, mas não deixou saudades. Foi convidado para fazer um trabalho, com um colega, na área dos transportes, numa empresa municipal. Claro que quem fez o trabalho foi o colega. Depois de uma passagem fugaz pelo planeamento da câmara regressou à empresa municipal mas desta vez na condição de requisitado. Começou por desempenhar várias funções que se resumiram a função nenhuma. Esboçou um ou outro gráfico para apresentação durante a campanha eleitoral e pouco mais. Depois ficou à espera que criassem o seu novo gabinete. Ele esperava ser director ou quiçá administrador. Talvez lhe tivesse sido prometido um destes cargos. No entanto apenas teve direito a um gabinete de auditoria que visava auditar coisa nenhuma. Mas como este auditor é nómada, num passo de magia foi transferido para outra empresa municipal onde é, não se sabe muito bem o quê.
Era uma vez um estatístico. Foi apresentado como administrador sem pelouros, mas era estatístico ou professor. Confuso quanto baste. Vamos começar novamente, criou um movimento de cidadãos para ajudar a cidade onde residia. Debateu na assembleia municipal pelos direitos dos munícipes. Era professor, gostava de estatística e passou a ser administrador, mas sem pelouros. Resumindo agora sem enganos. Era professor, fundou um movimento, gostava de estatística e foi administrador sem pelouros. Foi, durante um curto período de tempo, administrador numa empresa municipal, onde se limitava a imprimir dados estatísticos do concelho e a partilhar conclusões que retirava, com alguns colaboradores da empresa. Utilizava a viatura do estado ao fim-de-semana para ir tomar um café a Sintra. Após as eleições e à semelhança do nosso amigo general beneficiou da reestruturação da câmara e ficou com um pequeno gabinete e um grande ordenado.

Não se conhecem muito bem as funções desempenhadas por cada um destes senhores. Não são sujeitos a avaliação de desempenho mas existe sempre um gabinete pronto para recebê-los.
Fica a questão: Quantos generais, auditores e estatísticos existirão a gravitar nos organismos públicos?

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