segunda-feira, 23 de maio de 2011

O país das maravilhas

O país das maravilhas
Portugal é um país repleto de monumentos espectaculares, não só pelos seus traços arquitectónicos singulares como também pelo enquadramento nas paisagens naturais. Temos belíssimas capelas, santuários, mosteiros, igrejas, pontes, conventos e até palácios. São considerados pelos apreciadores, verdadeiras maravilhas. Há quem, sem qualquer pudor, apelide Portugal como o país das maravilhas.
 No entanto, o que a maior parte dos portugueses desconhece, são as outras maravilhas que existem, também elas, em certos casos, implementadas, em zonas consideradas de património mundial pela UNESCO. Estas maravilhas materializam-se em câmaras, empresas públicas e entidades municipais. Aqui sim inicia-se o outro país das maravilhas, talvez o único que importa, pelo menos para os Homens que já não conseguem viver sem ele, que estão viciados nas engrenagens maquiavélicas do sistema, onde gravitam abutres famintos e sedentos de poder e de vil metal.
No país das maravilhas não existem currículos nem licenciaturas. Não existem concursos, de recrutamento de pessoal, rigorosos e isentos. Não existe transparência nos procedimentos. No país das maravilhas proliferam presidentes, administradores, directores, assessores. Não existem estudos de viabilidade credíveis. Não existem manuais de procedimentos internos efectivamente implementados. No país das maravilhas há ordenados chorudos pagos apenas a parasitas que nada produzem. Há atribuição de telemóveis sem limite de saldo e de despesas de representação. No país das maravilhas até se atribuem viaturas do estado, utilizadas para satisfazer interesses privados nomeadamente nas deslocações, diárias, para casa ou como meio de transporte durante o período reservado às campanhas eleitorais, ou simplesmente para ir até ao centro comercial tomar um café enquanto se lê o jornal desportivo. No país das maravilhas há professores que são presidentes, administrativos que são administradores. Até há indivíduos, que sendo da área jurídica são directores desportivos. No país das maravilhas não importa a inteligência ou a competência, mas sim o padrinho. No país das maravilhas há muitos políticos. No país das maravilhas os melhores cargos e ordenados são para os políticos, ou para amigos. No país das maravilhas nunca há verba para aumento da remuneração dos colaboradores. No país das maravilhas há sempre disponibilidade para mais um ordenado de administrador.  No país das maravilhas encomendam-se auditorias e depois escondem-se as conclusões.
Um dia o TC auditou uma empresa do país das maravilhas, e escreveu no sumário executivo do relatório que produziu, o seguinte:
“6. Assim, o modelo de “empresa municipal”, tal como foi implementado até ao presente momento pela autarquia de Sintra, conjugado com as situações de desconformidade com a lei indiciadas, não revela uma mais valia significativa que justifique a sua criação e existência.”

Relatório nº 06/2006 (2ª Secção - Procº. n.º 35/04-Audit) referente a auditoria efectuada pelo TC a uma empresa municipal de Sintra e com incidência no Exercício de 2003.

No país das maravilhas nem o TC nem o F.M.I. conseguem impor regras.

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